
Título: Outros Jeitos de Usar A Boca (Milk & Honey)
Autor (a): Rupi Kaur
Editora: PLANETA
Preço: R$17,94, R$19,90 e R$19,90
Sinopse: Outros jeitos de usar a boca é um livro de poemas sobre a sobrevivência. Sobre a experiência de violência, o abuso, o amor, a perda e a feminilidade. O volume – publicado nos EUA como “milk and honey” – é dividido em quatro partes, e cada uma delas serve a um propósito diferente. Lida com um tipo diferente de dor. Cura uma mágoa diferente. Outros jeitos de usar a boca transporta o leitor por uma jornada pelos momentos mais amargos da vida e encontra uma maneira de tirar delicadeza deles. Publicado inicialmente de forma independente por Rupi Kaur, poeta, artista plástica e performer canadense nascida na Índia – e que também assina as ilustrações presentes neste volume –, o livro se tornou o maior fenômeno do gênero nos últimos anos nos Estados Unidos, com mais de 1 milhão de exemplares vendidos.
Rupi Kaur é uma poeta contemporânea nascida na Índia, que vive em Toronto, no Canadá. Ela tem 24 anos e começou a chamar a atenção do público na internet quando postava os seus poemas no Instagram. Sim, uma maneira diferente de mostrar arte, e que deu muito certo: em 2014, Rupi lançou “Milk & Honey”, que conquistou #1 lugar no “The New York Times” e abriu as portas para um novo jeito de fazer poesia. A artista (que também desenha), é feminista e grande parte dos seus poemas aborda os traumas, as dores e as histórias sobre ser mulher.
O livro é dividido em quatro partes: “a dor”, “o amor”, “a ruputura” e a “cura”. Cada um deles trás poemas honestos e dolorosos sobre as vivências de Rupi e de muitas outras mulheres. É possível se identificar com cada um deles; os poemas são escritos com poucas pontuações e com versos bem livres.
A dor
O livro já começa de forma abrupta e dolorosa. Os primeiros versos nos contam experiências sobre repressão, abuso (tanto de maneira física quanto em relacionamentos tóxicos), e de ter a sua voz tirada de você desde o inicio.
“O terapeuta coloca
a boneca na sua frente
ela é do tamanho das meninas
que seus tios gostam de apalpar
mostre onde ele colocou as mãos
você mostra o lugar
entre as pernas aquele
que ele arrancou com os dedos
igual a uma confissão
como você está se sentindo
você desfaz o nó
da garganta
com os dentes e diz bem
um pouco dormente
– sessões nos dias da semana“
As palavras de Rupi tem o poder de tocar o leitor desde o inicio. Elas nos machucam, nos dão alívio e também nos fazem refletir. A autora consegue expor tudo o que ela sentiu: desde as sensações até as mágoas que ela guarda no corpo. Sabe aquele sentimento de sororidade? É exatamente isso que o livro nos provoca: vontade de nos unir, de dar as mãos e de encontrar apoio em outras mulheres (e também, dar esse apoio para elas).
É nesta parte do livro que a autora também escreve bastante sobre as suas relações famíliares e o relacionamento complicado com o seu pai, que é pouco presente. Ela cita os momentos em que o ambiente familiar a reprime, e não a deixa realmente ser quem ela é, ou seja, ter voz.
“Você me diz para ficar quieta porque
minhas opiniões me deixam menos bonita
mas não fui feita com um incêndio na barriga
para que pudessem me apagar
não fui feita com leveza na língua
para que fosse fácil de engolir
fui feita pesada
metade lâmina metade seda
difícil de esquecer e não tão fácil
de entender”
O amor
A segunda parte do livro possui diversos poemas que falam sobre um relacionamento importante da vida da autora, que a desperta sentimentos conflituosos. Em alguns momentos eles são positivos e em outros, a fazem questionar tudo. Mas não é apenas sobre amar ao outro, e sim, amar a si mesmo e saber se respeitar. Porém, Rupi questiona constantemente o fato de nós, mulheres, sermos influenciadas pelos fatores externos a nunca gostarmos de nós mesmas.
“tenho tanta dificuldade
de entender
como alguém
pode derramar sua alma
sangue e energia
em alguém
sem pedir
nada em troca”
– tenho que esperar até ser mãe
Ela também explora a sexualidade de forma aberta, ao mesmo tempo que utiliza metáforas (ou em outros momentos, poemas que vão direto ao ponto) para falar dos desejos e do prazer da mulher, um assunto essencial que muitas vezes, fica de fora das publicações literárias, como se as pessoas do sexo feminino só estivessem aqui para dar o prazer à alguém, e não obtê-lo para elas mesmas.
“Só de pensar em você
minhas pernas abrem espacate
como um cavalete com uma tela
implorando por arte”
As ilustrações de Rupi também desempenham papel importante nos poemas, e suas ilustrações são responsáveis por dar vida à todas as palavras. Elas aparecem em praticamente todas as páginas.
A Ruptura
A penúltima parte do livro mergulha fundo em um sentimento de tristeza e término. Quando acabamos um capítulo da vida, quando enfrentamos uma desilução amorosa (alguém que mudou, de certa maneira, quem você era) e que deixou um buraco profundo e difícil de ser preenchido. É com maestria que Rupi Kaur reflete os sentimentos de amar e não ser correspondido, ou de ser amado e não poder corresponder da mesma maneira; e de ter que aprender a gostar de quem você é, antes de tudo.
“eu sempre
me enfio nessa confusão
eu sempre deixo
que ele diga que sou incrível
e meio que acredito
eu sempre pulo pensando que
ele vai me segurar
na queda
irremediavelmente eu sou
a amante
a sonhadora e
isso ainda acaba comigo”
São poemas que refletem a insegurança, a dúvida, o questionamento sobre si mesmo. Algo que é presente em muitos de nós e também promove uma fácil identificação.
“ele só susurra eu te amo
quando desliza a mão
para abrir o botão da sua calça
é aí que você tem
que entender a diferença
entre querer e precisar
você pode querer esse menino
mas você com toda a certeza
não precisa dele”
A cura
O livro é finalizado com poemas que falam sobre reconstrução. Depois de toda a dor e a mágoa que a autora passa – e nos envolve também – desde o início da obra, é aqui que acompanhamos os seus passos em que ela se cura dos traumas e das experiências pelas quais passou. Rupi aborda também em diversos momentos o racismo que sofre, o machismo, e fala sobre o fato de encontrar a segurança em outras mulheres.
“parece que é deselegante
falar da minha menstruação em público
porque a verdadeira biologia do meu corpo
é real demais
é legal vender o que
uma mulher tem entre as pernas
mas não é tão legal
mencionar suas entranhas
o uso recreativo deste
corpo é considerado
uma beleza mas
sua natureza é
considerada feia”
Os padrões de beleza são questionados, e todas as dores que as mulheres – como um coletivo – já tiveram que enfrentar durante a sua vida são detalhadas por meio dos seus poemas. O fato de sermos bombardeadas pela mídia com versões “perfeitas” de como deveríamos ser, ou o fato de sermos expostas como um objeto em diversos momentos. Fica claro, no poema acima, o quanto o nosso físico é importante: mas o nosso íntimo, aquilo que é real sobre o sexo feminino “deve” ser escondido e ignorado. Sim, mulheres mestruam. E sim, mulheres tem pelos. E ao contrário do que muitos pensam, nós não precisamos esconder isso.
“quero pedir desculpa a todas as mulheres
que descrevi como bonitas
antes de dizer inteligentes ou corajosas
fico triste por ter falado como se
algo tão simples como aquilo que nasceu com você
fosse seu maior orgulho quando seu
espírito já despedaçou montanhas
de agora em diante vou dizer coisas como
você é forte ou você é incrível
não porque eu não te ache bonita
mas porque você é muito mais do que isso”
O livro se tornou o meu favorito de 2017 (sem dúvidas), e é o tipo de leitura que eu indico para basicamente todo mundo que eu conheço. É importante valorizar o trabalho de Rupi Kaur, para que seja possível que as poetas contemporâneas ganhem mais espaço, e nós também ganhamos com isso, pois podemos ver realidades e dores de milhares de mulheres refletidas no papel.
A obra já foi traduzida para várias línguas nos últimos dois anos. No momento, a autora finalizou o livro sucessor. Você pode acompanhá-la nas redes sociais, como o Instagram e o Twitter, em que ela é super ativa.
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Thami Sgalbiero Jul 07, 2017
Ano passado eu comecei a ter mais contato com livros de poesias e poemas assim, por causa da parceria de uma editora que entrou em contato comigo e tal. O que mais gosto é que muitas descrevem o que estamos sentindo na hora. A ideia de dividir esse livro em dor, amor, ruputura e cura foi genial! Inclusive adorei esse poema da parte de “a cura” que você colocou aqui, porque concordo mesmo. Nosso física é importante e é o que chama atenção, mas nosso intimo não é tratado como beleza. Enfim, adorei a indicação desse livro que eu não conhecia, mas gostei agora de conhecer.
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Luísa Jul 07, 2017
Esse livro tá super bem cotado, né? Fiquei com bastante vontade de ler, apesar de não ser muito da poesia.
Beijocas!
http://www.lacotovie.com -
Nath Jul 10, 2017
Vi muita gente falando desse livro, e ele parece ser maravilhoso. Esses poemas são tão crus. Adorei. É muito bom ver alguém falando sobre esses temas de forma tão aberta e abrupta. Chega ser desconfortável mesmo. Esse penúltimo é muito bom, nossa <3
Beijos
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Camila Faria Jul 10, 2017
Ela é maravilhosa! E o livro é lindo mesmo, dá vontade de comprar mil cópias e sair distribuindo por aí… <3
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Váh Jul 10, 2017
Tá todo mundo falando e postando sobre esse livro né?
Eu odeio ler, mas livro assim com poemas e de um jeito fácil eu adoro!!
Adorei saber mai sobre o livro e a autora, aliás esse último texto do post foi meu preferido, que coisa linda -
Simone Benvindo Jul 11, 2017
Amo poesia, amei sua resenha e estou louca para ler este livro, a última poesia fechou seu post com chave de ouro *.* que lindo <3
Adorei os temas das poesias dela, com certeza tocam a alma.
Charme-se -
Mari Jul 11, 2017
Adorei esse título e, pela resenha, fiquei curiosa. Mais um livro pra minha listinha! <3
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KARINE Jul 14, 2017
esse livro ? eu fiquei apaixonada por ele! li rápido demais e terminei com aquele sentimento de saudade, sabe? agora tô doida pra comprar a versão física em inglês (li a digital em português, haha). adorei o post! me deixou com vontade de postar sobre ele no blog também!
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Katarina Holanda Jul 24, 2017
Eu amei o livro e ainda to digerindo. Queria poder dar de presente pra todas as pessoas <3